RESUMO DE LIVROS - HADJI, Charles. Avaliação desmistificada
HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre:
Artmed, 2001
Síntese elaborada por Carlos R. Paiva
1. Compreender que a avaliação formativa não passa de uma utopia promissora
Avaliação:
-multidimensional;
-tem por objetivos contribuir para o êxito da aprendizagem: avaliação
formativa;
-é o horizonte da prática avaliativa em terreno escolar.
Avaliação distingue-se:
-implícita: se revela por meio de seus efeitos;
-espontânea: formula-se e é subjetiva;
-instruída: operacionaliza-se por meio de instrumentação para produzir as
informações sobre as quais se baseará o julgamento.
Avaliação de referência normativa, avaliação de referência criteriada
Normativa: impõe normas de comportamento. A avaliação livre de normas é utopia,
sem possibilidade lógica. A norma não é subjugante nem libertador, é um modelo
valorizado pelo grupo. A avaliação normativa tem por objetivo situar os
indivíduos com relação aos outros. Criteriada: aprecia determinado comportamento
situando-o em relação a um alvo – critério ou objetivo a ser atingido.
Se de um lado elas se opõem, por outro a normativa é em parte criteriada,
porque situa alguns desempenhos com relação aos outros e refere-se a critérios
de conteúdo. A criteriada pode levar a normativa, e ambas podem ser ou não
formativas.
Avaliação prognóstica, formativa e cumulativa
Prognóstica: precede a ação de formação, identificando no aprendiz seus pontos
fortes e fracos;
Cumulativa: feita depois da ação, ela e verifica se as aquisições, com vistas a
expedir ou não, o “certificado” de formação;
Formativa: situa-se no centro da formação, porque sua principal função é
contribuir para uma regulação da atividade de ensino, de levantar informações
úteis a regulação do processo ensino-aprendizagem.
Toda avaliação tem uma dimensão cumulativa e prognóstica. O conteúdo e as
formas de ensino deveriam e adaptar as características dos alunos reveladas
pela avaliação (pedagogia diferenciada).
Avaliação formativa como utopia promissora
Intenção do avaliador: tornar a avaliação formativa, modelo ideal.
Perrenoud diz que é “formativa toda avaliação que auxilia o aluno a aprender e
a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulação das aprendizagens e do
desenvolvimento no sentido de u projeto educativo”.
Na avaliação formativa:
-o professor será informado dos efeitos reais de seu trabalho e poderá regular
sua ação; terá flexibilidade, vontade de adaptar-se, variabilidade didática.
-o aluno saberá onde anda, tomará consciência de suas dificuldades, reconhecer
e corrigir seus próprios erros.
A avaliação é contínua, e as correções a serem feitas dizem respeito a ação de
ensino do professor e a atividade de aprendizagem do aluno.
Obstáculos a emergência da avaliação formativa
1. existência de representações inibidoras na perspectivas administrativas e na
pedagogia destinada a selecionar. A avaliação é a medida contínua e viva –
notas - , e o professor deve contribuir com todas as forças pra o progresso dos
alunos.
2. a pobreza atual dos saberes necessários: no trabalho das interpretações
coletadas e das interpretações que exige referencia teórica que dê conta dos
múltiplos aspectos (cognitivos, afetivo e social).
3. a preguiça ou medo dos professores:não imaginam mediações.
2.
Compreender que avaliar não é medir, mas confrontar em processo de negociação
Avaliação não é medida. A prova pela notação
O objeto ou o acontecimento não pode ser visto sob uma única dimensão. A medida
é não pode ser objetiva. As variações de nota que se verificam entre um
examinador e outro para o mesmo trabalho vão bem além da incerteza normal.
A impossível reforma do instrumento avaliador
Para melhorar o instrumento, é preciso corrigir seus defeitos:
-a subjetividade do corretor;
-acreditar em possível neutralização.
A melhoria implica melhor preparação da prova: designar o objeto de modo a
estabelecer normas de competência dos candidatos.
A avaliação é um ato que se inscreve no processo geral de comunicação /
negociação. O avaliador é um ator na comunicação social, e avaliação é
interação, troca entre o avaliador e o avaliado, o aluno desempenha através do
resultado da interação professor, avaliador e situação social. A percepção do
examinador ao desempenho é dependente do contexto social.
A correção verifica-se as notas anteriores e a influencia do trabalho sobre o
produtor, a avaliação é influenciada por informações a priori. Nela transparece
a pregnância do que já foi socialmente julgado, traduzidos por arranjos de
negociação entre professor e alunos, fruto de confronto com os julgamentos
produzidos pelos outros; relação do corretor mantem a nota, do passado do
aluno, e da relação com os alunos e do nível médio da turma.
A avaliação escolar precisa para progredir de um “contrato Social” que determine
e fixe as regras do jogo.
Avaliação é ato de confronto entre uma situação real e expectativas referentes
a essa situação. Não é operação científica. Ela só legitima no seio de
determinada instituição. Ela expressa a adequação (ou não) entre a relação
atual do aluno com o saber e do objeto de desejo institucional.
Avaliação é operação de leitura da realidade
A leitura é sempre seletiva, não é medida. E a avaliação, como toda leitura, é
orientada. Por sua essência, a avaliação não pode ser objetiva. O avaliador tem
um pé no “deve ser”, que representa o conteúdo de uma expectativa especifica.
Assim, avaliar implica dizer em que medida ele é adequado, ou não, ao
desempenho que se podia esperar desse aluno. A relação de avaliação é de
não-diferença com o objeto avaliado.
A avaliação e a leitura da realidade se fazem pela construção critérios
elaborados a partir de um sistema plural de expectativas (da comunidade), e a
seleção obedecerá a um critério de prioridades.
3. compreender
que é possível responder a três questões pertinentes:
a) Deve-se abandonar toda pretensão quantitativa?
A avaliação não é neutra, expressa e traduz preferências, sempre discutíveis.
A instrumentação quantificativa não é garantia de mais eqüidade e de justiça do
que a objetividade. Os julgamentos dos professores são baseados em instituições
globais. Não se deve levar a rejeição do qualitativo, mas recolocá-lo em seu
lugar. Apreciar mais o êxito das aprendizagens do que o grau de conformidade
com o modelo social dominante. Avaliar é fazer agir a descontinuidade dos
valores, no sentido filosófico. Medir consiste em produzir um ‘descritivo
organizado’ da realidade que se apreende e se encerra em cadeia quantitativa.
b) deve-se recusar a julgar?
Não se deve julgar o êxito do aluno, mas dar-lhe a informação de que precisa
para compreender e corrigir seus erros. A avaliação descritiva é a única
compatvivel com tal relação de ajuda. Toda relação de ajuda exclui o
julgamento. Contribuir para tornar o aluno autor de sua aprendizagem.
c) deve-se continuar a avaliar?
A AUTO-AVALIAÇÃO torna-se a chave do
sistema. É a preocupação de facilitar a aprendizagem que lhe dá sentido e
coerência.
Pistas para a ação – avaliação formativa:
Objetivos: privilegiar a auto-regulação, construir por meio do ensino, de
maneira que o aluno perceba o “alvo”visado, aproprie-se dos critérios de
realização e de êxito, e esteja em condições de julgar sua situação,
tornando-se o professor capaz de fundamentar as remediações feitas sobre o
diagnóstico elaborados e de diversificar sua prática pedagógica.
Modalidades: o professor não deve limitar sua criatividade e sua imaginação;
deve ter a preocupação de falar correta e pertinentemente.
Condições técnicas: relacionar o exercício de avaliação ao objeto avaliado;
explicar os exercícios; especificar o sistema de expectativas e os critérios;
ampliar o campo das observações; tornar a avaliação informativa.
Deontologia do trabalho do avaliador: não se pronunciar levianamente; construir
“contrato social”, fixando as regras do jogo, refletir e identificar o que
julga poder esperar dos alunos; desconfiar de evidencias; denunciar valores em
nome dos quais se tomam decisões; não se deixar levar pelo dever de reserva ou
de retenção, desconfiar dos entusiasmos e dos abusos de poder.
Proposta para uma avaliação com intenção formativa, para o professor:
-desencadear comportamentos a observar;
-interpretar os comportamentos observados;
-comunicar os resultados da análise;
-remediar as dificuldades analisados.
4. Agir desencadeando de maneira adequada
Avaliar significa escolher provas e exercícios, construir uma avaliação e
determinar condições. Dizer sobre o que será a avaliação, quando ocorrerá, o
tempo que lhe será concedido, as tarefas que o aluno deverá realizar, que
atuação será levado em conta, etc. Toda avaliação instituída exige dispositivo
elaborado.
A avaliação só é formativa se for informativa, tem por função preparar uma
tomada de decisão de ordem didática. É essencial articular conteúdos sobre a
aquisição dos quais há um questionamento com exercícios capazes de informar
sobre essa aquisição.
A tarefa como desencadeador privilegiado
O exercício –desencadeador deve obedecer exigências e significância.
Analisar a tarefa em torno:
-do alvo (objetivo), resultado material da atividade desenvolvida;
-os critérios de realização, procedimentos das tarefas e ações de cada tarefa
especifica;
-critérios de êxito aceitabilidade para resultados das operações;
-condições de realização externos (tempo, documentos, trabalho individual, grupo)
e internas (conhecimentos imobilizados).
A tarefa é meio e não o fim.
5. Agir observando/interpretando de maneira pertinente
Os exercícios –desencadeadores são instrumentos para a avaliação, resultado do
trabalho do aluno deverá ser lido e exigirá interpretação. Avaliar requer
observar e interpretar.
Tensão sobre observável/inobservável
Análise de comportamento: centrada sobre os observáveis (factual e descritiva);
Análise de conduta: necessário a interpretação onde raciocínio e representações
(inobserváveis) do sujeito devem ser inferidos.
O problema da análise dos erros
O erro pode se expressar por dificuldades (de leitura, com os tempos dos
verbos, com os advérbios, com as relações, com a análise) ou confusões entre a
ordem de apresentação e a ordem cronológica. É essencial compreendê-lo para
superá-lo, deve ser um meio para tornar a avaliação informativa.
Facilitar o procedimento de auto-avaliação
Contar com a participação do aluno.
Processo de construção da auto-avaliação como habilidade:
Autocontrole espontâneo ou regulação cognitiva implícita: autonotação –
autobalanço – autocontrole crítico –regulação instrumentalizada e
metacognitiva.
6. Agir, comunicando de modo
útil
o professor deve tomar cuidado para que sua comunicação seja clara,
preocupar-se em formular frases, designar objetivamente o que se quer
descrever, esforçar-se para abrir diálogo com o aluno, sugerir sugestões para
melhorar o seu desempenho.
Comunicação, deontologia, ética
Para a avaliar é preciso ter a sensação do que as coisas valem, o que implica
relação não indiferente com o mundo. O professor deve estabelecer bases de
confiança no sentido ético, pois a avaliação formativa envolve afetividade. Com
isso ele deve aceitar o principio da discussão e do questionamento e buscar
imperativos válidos para se alcançar os objetivos, fazer o que for necessário e
legitimo pela comunidade se fazer referência a pessoa humana.