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quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Pedagogia do Oprimido (Resenha)
por Alexsandro M.
Medeiros
postado em 2014
O livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire traz à tona a
questão da relação dialética (contradição) entre opressores versus oprimidos
e de como é necessário uma práxis que possa orientar uma ação visando a
superação dessas contradições.
Em seu primeiro capítulo que tem como
título “Justificativa da Pedagogia do Oprimido”, Freire discute o
processo de desumanização causada pelo opressor a seus oprimidos “[...]
desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua humanidade roubada,
mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da
vocação do ser mais” (1987, p. 16). Freire relata que a forma de imposição que
o opressor envolve o oprimido faz com estes “sejam menos”, ou seja, vejam-se em
condições onde ele precise do seu usurpador. Neste capítulo Paulo Freire
desenvolve tal discussão em torno da oposição entre humanização e desumanização
e de luta para recuperar a humanidade dos oprimidos.
E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar
sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente
opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas
restauradores da humanidade em ambos (1987, p. 16)
O processo de liberdade deve ser vista e
sentida por ambas as partes. A libertação do estado de opressão é uma ação
social, não podendo, portanto, acontecer isoladamente. O homem é um ser social
e por isso, a consciência e transformação do meio deve acontecer em sociedade.
Mas como poderá o homem sair da opressão se os que nos “ensinam” são também
aqueles que nos oprimem? No desenvolver de seu livro, Paulo Freire procura
conscientizar o docente do seu papel problematizador da realidade do educando e
de como a educação também tem um papel importante nesse processo de busca pela
liberdade e que, por isso, Freire é levado a aprofundar alguns pontos
discutidos em sua primeira obra: Educação como prática da liberdade.
Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se
libertam em comunhão (p. 29)
A ação política junto aos oprimidos tem de ser uma “ação
cultural” para a liberdade. É como homens que os oprimidos têm de lutar e não
como “coisas”. O processo de desumanização coisifica os homens e, portanto,
lutar pela sua humanização é fazer com que estes deixem de ser “coisas”. É
precisamente porque reduzidos a quase “coisas”, na relação de opressão em que
estão, que se encontram destruídos. Para reconstruir-se é importante que
ultrapassem esse estado de quase “coisa”.
Essa liberdade que tanto o oprimido almeja, tem que ser
conquistada por seu próprio esforço e em comunhão com os outros, pois como
afirma Freire, “ninguém liberta ninguém e ninguém se liberta sozinho: os homens
se libertam em comunhão” (1987, p. 29), e quando o mesmo não consegue ver que é
um alienado, não é uma doação que alguém faça, e sim uma busca dolorosa para
encontrar essa liberdade, mergulhados nesse mundo que o opressor o expõe, os
oprimidos têm medo dessa liberdade, ficam divididos em sair desse mundo o qual
está preso ou livrar-se, deixa-os confusos, e continuam sofrendo interiormente.
“A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce
deste parto é um homem novo” (1987, p. 19). É difícil, exaustivo encontrá-la,
mas quando chegar a ser na vida dos oprimidos, tornam-se seres diferentes do
que se podia ver antes.
“Não haveria oprimidos, se não houvesse uma relação de
violência que os conforma como violentados, numa situação objetiva de opressão”
(1987, p.23). Os oprimidos se conformam, se acomodam e aceitam a violência com
que são tratados, não procuram enxergar a realidade ao seu redor, aceitam tudo
com facilidade, são humilhados pelos opressores.
“Somente os oprimidos, libertando-se, podem libertar os
opressores” (1987, p.24). Ou seja, no momento em que os oprimidos se
libertarem, os opressores deixarão de existir, e assim ambos encontrariam a
liberdade. Opressores geram opressores, e muitos que são oprimidos almejam ser
opressores por causa do “poder” de opressão, que por muitos oprimidos é tido
como objetivo. Apesar do opressor parecer está acima de tudo, ele também não é
um ser livre, porque depende do oprimido para estar acima dos outros, precisa
do “poder”.
“Para os opressores, o que vale é ter mais e cada vez mais,
à custa, inclusive, do ter menos, ou nada ter dos oprimidos” (1987, p.25). Os
opressores não medem as consequências, para continuar no seu papel de opressor,
quanto mais tem, mais querem ter, torna-se uma busca sem fim, não ligam se os
oprimidos nada tem, o que querem é alcançar seus objetivos, sem com nada se
importar.
Mas uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora
atual, se propõem a si mesmo como problema, descobrem que pouco sabem de si, de
seu “posto no cosmos’’, e se inquietam por saber mais. O problema de sua
humanização, apesar de sempre dever ter sido, de um ponto de vista axiológico,
o seu problema central, assume, hoje, um caráter de importante preocupação.
A Pedagogia do Oprimido, que não pode ser elaborada pelos
opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica, a dos oprimidos
por si mesmo e a dos opressores pelos oprimidos, como manifestações da
desumanização.
Se os homens são os produtores desta realidade e se esta, na
“inversão da práxis’’, se volta sobre eles e os condiciona, então transformar a
realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa de homens e mulheres. Ao
fazer-se opressora, a realidade implica a existência dos que oprimem e dos que
são oprimidos. A pedagogia do oprimido que, no fundo, é a pedagogia dos homens
empenhando-se na luta por sua libertação, tem suas raízes aí. A Pedagogia do
Oprimido, que busca a restauração da intersubjetividade, se apresenta como
pedagogia do homem.
A Pedagogia do Oprimido, como pedagogia humanista e
libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão
desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua
transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta
pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em
processo permanente da libertação.
No capítulo II, Freire discute “A
concepção ‘bancária’ de educação como instrumento da opressão”, e pretende
mostrar as formas mais comuns de se conduzir e manter inertes uma sociedade.
Por conseguinte, nos leva a aspirar por uma libertação dessa inércia, deste
palco de fantoches cujo manipulador está o opressor e o oprimido como
manipulado. Na concepção de Paulo Freire esse modelo de educação também
apresenta formas de controle e opressão e tem na concepção “bancária” a
característica da sociedade opressora: ela deposita conhecimento aos educandos
de forma que o mesmo fique limitado só ao conhecimento que lhe é imposto sem
que haja diálogo e debate de opiniões e ideias.
Desta forma, Paulo Freire nos conduz a pensar na necessidade
de mudança, de liberdade e superação do atual estado de inércia, criticando e
mostrando alguns caminhos que possam seguramente nortear tais anseios. Ele traz
a discussão de que é o professor quem faz o seu aluno um mero depositário:
“desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos
são os depositários e o educador o depositante” (1987, p. 33).
Uma vez conhecendo sua situação na sociedade, o educando
jamais se curvará para a condição de oprimido, pois seu lema será a igualdade e
por ela buscará. A educação bancária transforma a consciência do aluno em um
pensar mecânico, ou seja, em sentir como se a realidade social fosse algo
exterior a ele e de nada lhe aferisse. Já a educação problematizadora gera
consciência de si inserido no mundo em que vive e diz respeito à ideia de que
deve existir um intercâmbio contínuo de saber entre educadores e educandos, com
a intensão de que os últimos não se limitem a repetir mecanicamente o
conhecimento transmitido pelos primeiros.
Por meio do diálogo entre professores e alunos,
estabelecem-se possibilidades comunicativas em cuja raiz está a transformação
do educando em sujeito de sua própria história. É a superação da dicotomia
educador versus educando. Nesse processo de educação
problematizadora, o professor aprende enquanto ensina pelo diálogo de seus
educandos, estimulando o ato cognoscente de ambos, ou seja, ensina e aprende a
refletir criticamente.
O processo de educação é um ato eminentemente humano, pois
só os homens tem consciência de sua incompletude e, por isso busca compreender
o mundo que vive em sua finitude. Mas é no ser que transforma que ele percebe a
sua importância, portanto é na educação problematizadora que gera história que
se humaniza a sociedade.
capítulo III tem como tema “A
dialogicidade – essência da educação como prática de liberdade” e demostra
o quanto é importante o desenvolvimento do diálogo no processo educativo em
oposição ao método bancário de transmissão de conhecimento.
Freire fundamenta o diálogo no amor e aborda também a
práxis, que tem como dimensões: a ação, reflexão e ação transformadora. A
palavra tem nesse sentido um valor de transformação, transformar o mundo e aos
homens. E para libertar os oprimidos de sua condição de opressão, utiliza-se do
diálogo. Sendo a palavra um direito de todos, e não um privilégio como muitos
defendem e uma ação amorosa, pois: “Não há diálogo, porém, se não há um
profundo amor ao mundo e aos homens.” (1987, p. 45).
Neste capítulo Freire descreve também alguns elementos
chaves do seu “método”, como a utilização de temas geradores para fomentar o
diálogo e o aprendizado. Segundo Freire, “investigar o ‘tema gerador’ é
investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar
seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (1987, p.56).
Os temas geradores são importantes e devem partir sempre da
realidade e não como a educação tradicional que se baseia em conteúdos
pré-estabelecidos. Não é possível ensinar as pessoas simplesmente com palavras
que não sejam do domínio do educando.
É necessário que haja uma investigação e uma coleta desses
temas que fazem parte do convívio social do povo que se quer ensinar. É
possível vermos professores que acreditam que os conteúdos são mais importantes
do que a experiência que o aluno traz da vida, o sujeito não tem um
conhecimento e se faz necessário inserir os conhecimentos no indivíduo sem se
preocupar com a historicidade. E os temas geradores são propulsores para novos
diálogos.
É extremamente danoso uma sociedade sem o diálogo, sem a
troca de experiência, onde o “eu” é detentor da verdade absoluta, e o outro não
deve interferir em seus conceitos. Sem diálogo a sociedade se divide e se torna
alvo fácil dos opressores que induzem pessoas fragilizadas e egoístas, onde a
liberdade será quase que impensável.
O diálogo não anula o “eu”, pois parte
das nossas próprias experiências, mas em comunhão com o outro, que também
trazendo sua experiência constrói uma nova visão nessa troca de saberes.
A liberdade é alcançada através de uma consciência crítica na práxis, onde o eu e
o outro estarão em um constante diálogo na transformação da
realidade.
Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno humano, se nos
revela algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao
encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais que um meio para
que ele se faça, se nos impõe buscar, também, seus elementos constitutivos
(1987, p. 44).
Para nos libertamos das garras dos nossos opressores
precisamos encontrar no diálogo a nossa arma de defesa. A maioria das pessoas é
coagida a ficarem silenciadas, não podendo expressar suas opiniões tornando-se
pessoas submissas aos detentores do poder da sociedade vigente. O diálogo é a
base da comunicação, por via dele que conhecermos o outro, suas carências e
necessidades. Se eu não escuto o outro eu não o conheço. A palavra é a chave da
libertação do oprimido. E Paulo Freire volta ao tema do amor como fundamento
para o diálogo.
Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens.
Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se
não há amor que o funda. Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também,
diálogo. Daí que seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa
verificar-se na relação de dominação. (1987, p.45).
Somente posso ouvir a voz de quem está ao meu redor se eu
tiver amor ao mundo e aos homens, porque é praticando uma relação harmoniosa
que saberei as suas necessidades. O diálogo é o encontro dos homens
mediatizados pelo mundo. O mundo será o que me ligará aos outro homens e
mulheres, nossas leituras de mundo nos farão reconhecer a importância da
comunicação entre o eu e o tu.
A educação tem que ser pautada na conversa, na comunicação
entre professor e aluno e entre os colegas, assim a educação se tornará uma
educação para a libertação onde todos terão direito em expressar suas opiniões.
Com isso o autor nos mostra a importância do contexto social
e cultural trazido pelo aluno à sala de aula. É a partir dessa reflexão da
cotidianidade, dos elementos que compõem a realidade do aluno que deverá ser
baseado o conteúdo programático da educação, como propõe Paulo Freire. Dessa
forma a aprendizagem ocorrerá mais rápido, pois é mais fácil trabalhar com
palavras que estejam no dia a dia do povo, para explicar-lhes o sentido.
“Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão de mundo,
ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa” (1987, p.
49). O método da dialogicidade ganha importância ao conceder aos participantes
do processo de ensino e aprendizagem a liberdade de expressão. Aqui o direito
de refletir já não está restrito ao professor que repassa sua visão de mundo,
sua realidade, mas abre-se espaço para que o aluno também possa expressar sua
percepção da realidade.
Vemos assim como Freire construiu um importante instrumento
educativo na formação de uma consciência do povo na transformação social: uma
educação do povo para o povo e com o povo.
O capítulo IV trata da “Teoria da ação antidialógica”
e mostra, por assim dizer, os dois lados da moeda, os quais o próprio autor
visualiza o primeiro como incorreto – a Teoria da Ação Anti-Dialógica –, e o
que realmente deveria ser disseminado e seguido – sua Teoria da Ação Dialógica
–, na qual descreve a importância do homem como ser pensante de práxis sobre o
mundo. A ação transformadora se faz pela reflexão e ação. Demonstra também que
um ser que se dedique a liderança revolucionária da opressão, não deve
confundir seu papel de representante do diálogo com os oprimidos, impondo o seu
ponto de vista. Tem que levar a verdadeira palavra daqueles que representa
emergindo o novo em meio ao velho da sociedade dominante. Além disso, o caráter
revolucionário dos oprimidos, em sua ação transformadora, é uma ação
pedagógica, da qual emerge novas possibilidades de renovação social. O quadro
abaixo demonstra os dois lados dessa moeda.
Em sua descrição sobre o sistema de
opressão antidialógico, Paulo Freire descreve que são quatro os elementos
utilizados para a realização da dominação (como visto no quadro acima):
conquistar, dividir, manipular e invasão cultural. A primeira delas é a conquista,
que segundo Freire “o antidialógico, dominador, nas suas relações com o seu
contrário, o que pretende é conquistá-lo, cada vez mais, através de mil formas”
(1987, p. 78).
O primeiro caráter que nos parece poder ser surpreendido na ação
antidialógica é a necessidade da conquista [...] Todo ato de conquista implica
num sujeito que conquista e num objeto conquistado. O sujeito da conquista
determina sumas finalidades ao objeto conquistado, que passa, por isto mesmo, a
ser algo possuído pelo conquistador (1987, p. 78).
O segundo ponto é dividir, para manter a
opressão. A divisão das massas se faz necessária para poder dominá-las, pois,
um povo unido é sinal de perigo. Esse é o discurso de quem oprime, por isso,
evita-se trabalhar conceitos como lutas, revoltas, união, etc.
Esta é outra dimensão fundamental da teoria da ação opressora, tão velha
quanto a opressão mesma. Na medida em que as minorias, submetendo as maiorias a
seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condição
indispensável à continuidade de seu poder (1987, p. 79).
Além disso, é pela manipulação que os
opressores controlam e conquistam as massas oprimidas para a realização de seus
objetivos, “a manipulação, na teoria da ação antidialógica, tal como a
conquista a que serve, tem de anestesiar as massas populares para que não
pensem” (1987, p. 84). Então o terceiro ponto é a manipulação da elite
dominadora, que as massas populares com menos conhecimento político são
facilmente enganadas por pessoas que entendem um pouco mais, usando isso para
continuar seu poder sobre eles. Enquanto pessoas que estão ao lado da minoria
tentam contrariar de toda forma esse ato.
Através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as
massas populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente,
estejam elas (rurais ou urbanas) tanto mais facilmente se deixam manipular
pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder (1987, p.
83).
Por fim a invasão cultural é um instrumento
da conquista opressora, “neste sentido, a invasão cultural, indiscutivelmente
alienante, realizada maciamente ou não, é sempre uma violência ao ser da cultura
invadida, que perde sua originalidade ou se vê ameaçado de perdê-la” (1987, p.
86). A minoria dominante impõe sua visão de mundo e todos se guiam por ele.
Finalmente, surpreendemos na teoria da ação anti-dialógica, uma outra
característica fundamental, - a invasão cultural que, como as duas anteriores,
serve à conquista. Desrespeitando as potencialidades do ser a que condiciona, a
invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos
invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a
criatividade, ao inibirem sua expansão (1987, p. 86).
Paulo Freire encerra esse capítulo colocando os elementos da
ação dialógica, que são: a colaboração, a união, a organização e a síntese
cultural.
A colaboração do diálogo entende o outro
como o outro e respeita a sua culturalidade. A união da massa
oprimida se faz necessária, e é papel do representante dessa classe mantê-la
unida para ganhar força de transformação, “a organização das
massas populares em classe é o processo no qual a liderança revolucionária, tão
proibida quanto este, de dizer sua palavra, instaura o aprendizado da pronúncia
do mundo, aprendizado verdadeiro, por isto, dialógico” (1987, p. 103 – grifo
nosso). A síntese cultural se fundamenta na compreensão e
confirmação da dialeticidade permanência-mudança, que compõem a estrutura
social.
Portanto, compreendendo a tese fundamental de Paulo Freire
neste livro, vemos que ele elabora conceitos pedagógicos pelos quais o educador
deve enveredar-se para uma transformação no contexto social de dominação que se
dá através do processo de educar.
A conscientização se dá por um processo gradual em que se
busca a liberdade sem produzir novos opressores e oprimidos. Ele coloca uma
revolução na estrutura social, através da qual o homem como sendo de
fundamental importância a sua existência no mundo, é capaz de fazer sua
história, sem um futuro a priori, como este que é imposto pelas
minorias dominantes.
Em virtude dos fatos, Freire, na sua Pedagogia do Oprimido,
nos faz compreender sobre a prática da liberdade com uma nova pedagogia de ação
reflexiva e crítica, abrindo fronteiras para o pensar do homem , e isso tudo se
deve na comunicação com o outro, ou seja, no diálogo.
Ao analisarmos essa obra de Paulo Freire, percebemos que até
hoje, em nossas escolas, o conceito de educação problematizadora ainda não
conseguiu ser implantada. O professor formador de conscientização vive um drama
entre ensinar o que pensa ou cumprir com o currículo que lhe é imposto pelos
órgãos educacionais. Vive pesquisando para preparar uma aula que muitas vezes
os alunos nem param para ouvir por que o conteúdo que o professor tem que
cumprir não condiz com a realidade que seus alunos vivem. Então podemos
entender que o sistema educacional de hoje também continua a disseminar a
opressão. Não tanto por causa do professor, mas pelas condições de trabalho que
lhes é imposto. O educador hoje é tão vítima como o oprimido, pois é meramente
mais um deles.
Percebemos que
esse sistema educacional atual se configura através de uma pirâmide, na qual as
unidades hierárquicas “dominantes” exercem uma forte pressão sobre os
“dominados”, prevalecendo assim, a lei do mais forte. O discurso de Paulo
Freire na teoria é encantador e nos faz analisar essa educação libertadora e
dialógica que amplia o senso crítico e faz-nos acreditar como seres iguais na
capacidade de absorver, transformar e desenvolver novos conhecimentos, porém,
sabemos que a realidade vivenciada é total e/ou parcialmente diferente. E que
para que tal discurso possa se efetivar de fato, na prática, é preciso
colaboração, união e organização das classes populares, em diálogo permanente
para a transformação da realidade opressora em que vivemos.
Ler mais: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/pedagogia-do-oprimido-resenha-critica/
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
RESUMO - PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Barbosa, Maria Carmem Silveira e Horn, Maria da Graça Souza
Em sua introdução, as autoras enfatizam a
importância de se lutar por uma educação infantil de qualidade e humanizadora.
Ressalta a defesa da indissociabilidade entre o cuidar e o educar que
deve caracterizar as ações escolares voltadas para este nível de ensino.
Tendo essa premissa as autoras propõe discutir
aspectos que julgam ser essenciais e que devem ser considerados e revistos para
que as ações educativas na educação infantil, sejam sistematizadas e
garantam, um processo emancipatório para as crianças.
Abordando alguns aspectos das ações escolares
entre crianças de 0 à 5 anos de idade como:
- A rotina do cotidiano das práticas educativas
- A organização dos espaços
- A presença do brincar como eixo do trabalho educativo-pedagógico
As autoras falam da importância deste trabalho
estar orientado por PROJETOS, pois eles interferem positivamente sobre o
desenvolvimento infantil.
Buscando discursar a respeito do tema o texto foi
estruturado em quatro partes: a rotina, o espaço físico, a importância do
brincar e o trabalho com projetos.
ROTINA – deve ser modificada e revista constantemente para tomar as ações
cotidianas, ou seja, pensar numa organização da rotina que
contemple este objetivo significa pensar em estratégias diferenciadas para se
planejar o momento de recepção e de saída das crianças, os diversos
momentos de refeição e higiene pessoal, a organização dos espaços físicos, os
momentos de parque e de sono, assim como em todas as outras atividades que de
uma forma ou de outra acabam se sedimentando na educação infantil, prevalecendo
a ideia de que é natural ocorrerem da mesma forma sempre.
Significa que, devemos possibilitar novas situações
que desestabilizem as crianças, levando-as a refletir sobre suas ações, de modo
que a rotina proposta esteja vinculada com todos os objetivos pedagógicos e
seja constantemente avaliada e reestruturada quando houver necessidade.
A rotina deve ser propiciadora de ações que
permitam às crianças serem ativas e questionadoras diante de diferentes
práticas propostas pela instituição escolar a fim de desenvolver variadas
habilidades.
Deverá ser desafiadora, contudo ela representa
também uma segurança em termos de acontecimentos. A previsibilidade
tranquiliza os pequenos ao mesmo tempo em que os encaminha para as atividades
cotidianas. Isto não quer dizer que tudo deva acontecer da mesma forma todos os
dias ou na mesma sequência, e sim, que uma certa organização para s
práticas permite um melhor aproveitamento das atividades propostas.
ESPAÇO FÍSICO – Pensar nos espaço para crianças de 0 a 5 anos é preciso levar em
conta toda a gama de necessidades e peculiaridades que envolvam o
trabalho com crianças pequenas. Neste sentido, ele deve ser acolhedor,
desafiador, criativo, instigante e, ao mesmo tempo, seguro.
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR - A relação entre o brincar e desenvolvimento infantil, dada
sua importância, já foi amplamente indicada e discutida por uma série de
teóricos, tanto da área da psicologia como da pedagogia.
Pelo brincar, nos primeiros anos de vida, a criança
estabelece relações com o mundo e com as pessoas que a cercam. Ao brincar, tem
a possibilidade de representar o mundo real e se apropriar dele, interagindo
com outras crianças e adultos, construindo hipóteses, respeitando regras e,
dessa forma, construindo-se enquanto sujeito. Há de se considerar que as
crianças de diferentes classes sociais estabelecem relações diferenciadas com o
brincar, ou seja, as brincadeiras variam de acordo com a classe social, o
contexto, a cultura, os objetos e os espaços disponíveis.
Na instituição de educação infantil torna-se
necessário que os espaços e as atividades estejam direcionados para a
valorização do brincar, pois quanto mais ricas forem as experiências oferecidas
mais interessante e enriquecido será o brincar. (CARNEIRO, 2010).
Ao exercitar a criatividade, a imaginação e
promover a socialização, as brincadeiras são um excelente recurso de
aprendizagem e desenvolvimento e devem fazer parte da rotina nas atividades da
educação infantil. Para tanto é importante que os profissionais que
trabalham com as crianças ofereçam um ambiente rico em estímulos e também
desafiem as crianças com atividades que envolvam o brincar.
O TRABALHO COM PROJETOS
Reconhecido como um modo de organizar as práticas representa
uma ação intencional, planejada e com alto valor educativo. Neste sentido, os
projetos envolvem estudo, pesquisa, busca de informações, exercício de crítica,
dúvida, argumentação, reflexão coletiva, devendo ser elaborados e executados
com as crianças e não para as crianças.
Barbosa e Horn (2008) indicam algumas dimensões que
fazem parte do trabalho com projetos: aqueles organizados pela escola para
serem realizados com as famílias, as crianças e os professores; o Projeto
Político Pedagógico da escola; aqueles organizados pelos professores para serem
trabalhados com as crianças e as famílias e, principalmente aqueles propostos
pelas próprias crianças.
Neste sentido é importante estar atento para as
necessidades e interesses do grupo e assim, propor temas e pesquisas que
envolvam o interesse das crianças e com isso motivem nas a participar
ativamente das atividades. O professor pode, ele mesmo, a partir de uma
necessidade identificada no grupo com o qual trabalha, apresentar um projeto a
ser trabalhado e explorado pelo grupo. Além disso, os professores precisam
também levar em conta os interesses declarados pelo grupo, as dúvidas apontadas
sobre determinado assunto, os questionamentos, o que indica o nível de
curiosidade das crianças e assim o tema que pode ser trabalhado em um projeto.
Os projetos não tem uma durabilidade fixa, podendo
durar dias, meses ou até um ano. Tudo vai depender do plano de trabalho
organizado, o que poderá demandar mais ou menos tempo de envolvimento do grupo.
De acordo com Barbosa e Horn (2008) são três os
momentos decisivos na elaboração e concretização de um projeto pedagógico na
educação infantil, sempre a partir de um trabalho conjunto dos professores com
as crianças. Inicialmente a definição do problema, seja a partir de uma fato
inusitado e instigante, de um relato de um colega ou de uma curiosidade
manifestada por uma criança ou pelo grupo de crianças. Definindo-se o problema
parte-se para o segundo passo, que envolve o planejamento do trabalho e a
concretização do projeto. Neste momento acontece o levantamento de propostas de
trabalho – indicadas pelas crianças e também propostas pelo professor e a
divisão de tarefas – O que precisa ser feito? Como o trabalho pode ser
desenvolvido? Como obter o material necessário? Feito isso se inicia a coleta,
organização e registro das informações. Professores e crianças buscam
informações em diferentes fontes previamente definidas e acordadas: conversas,
entrevistas, passeios, visitas, observações, exploração de materiais,
experiências concretas, pesquisas bibliográficas, uso dos diferentes espaços da
instituição. Como último passo, no trabalho com projetos, de acordo com as
autoras, tem-se a avaliação e a comunicação, que envolvem a sistematização e a
reflexão sobre as informações coletadas e produzidas como também a documentação
e exposição dos “achados”.
A partir deste percurso percebemos o quanto é
importante trabalhar com projetos na educação infantil, uma vez que ao
desenvolvê-los professores e crianças encontram-se envolvidos pela temática e
podem aprender muito com o encaminhamento das atividades e sua consecução.
Assim é necessário que se planeje previamente
as atividades que serão desenvolvidas, para que não se perca de vista os
objetivos a serem alcançados, de modo que a prática pedagógica tenha sequencia
e permita que a criança atinja determinadas metas e, então desenvolva mais
habilidades linguísticas, motoras e emocionais.
Segundo Oliveira (2005, p.236):
“Na verdade, a elaboração de uma
sequencia de atividades relativas a um eixo temático que se projeta no tempo e
constitui o mote principal da ação permite à criança integrar sua experiência
com diferentes propostas. Isso pode ser feito, por representar um objeto
associado a uma história lida pelo professor com um conjunto de peças para
serem encaixadas, desenhar depois o que foi representado e, finalmente, contar
e “escrever” uma história com base na representação do desenho.”
Desse modo, praticar a elaboração de projetos é um
modo de se garantir a participação dos alunos, uma vez que o projeto parte
sempre de uma problemática surgida no contexto escolar e/ou social.
(Texto adaptado de LIRA, A.C.M.;SAITO,H.T.I)
Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: racismo, discriminação e preconceito na educação infantil.
Editora Contexto. Houve certa tensão entre a autora e algumas professoras presentes, mas também muito interesse dos jovens na apresentação do trabalho. O livro, originalmente apresentado como dissertação de mestrado na Faculdade de Educação da USP, é fruto da observação sistemática do cotidiano escolar de uma Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) da região central de São Paulo, durante um período de oito meses, em três salas de aula de crianças entre quatro e seis anos de idade. Observou-se a relação professor/aluno, aluno/professor e aluno/aluno, considerando as expressões verbais, as práticas não-verbais e as práticas pedagógicas do ambiente escolar.
A
tensão entre a exposição de Eliane, educadora negra que ousou escarafunchar o
espaço sacrossanto da educação infantil, e várias outras educadoras certamente
se deve ao fato de que a pesquisa apresenta dados irrefutáveis acerca da
crueldade com que seres humanos tão pequeninos são tratados. Outro motivo é que
a maioria das professoras (o universo era de mulheres) parece perceber a
existência do preconceito racial na sociedade; entretanto, contraditoriamente,
nega que ele esteja presente dentro da escola, como se no tecido social doente
a escola representasse uma célula sã.
Por seu
lado, o interesse dos jovens provavelmente está ligado ao reconhecimento das
situações discriminatórias. Raphael, um dos jovens debatedores, perguntou a
Eliane como ela se sentiu ao fazer a pesquisa.
Ela
respondeu que muitas vezes teve que se esforçar para não intervir nas dinâmicas
escolares discriminatórias que deixavam as crianças negras fragilizadas,
hostilizadas, catatônicas, e o fez porque sua metodologia de pesquisa não
permitia intervenções.
Contrariando as referências bibliográficas analisadas e o depoimento das próprias professoras da escola pesquisada, Eliane percebeu conflitos e hierarquizações raciais entre as crianças, como demonstrou o depoimento de uma garota negra de seis anos. Segundo ela, as crianças só brincavam com ela quando levava brinquedo. Quando indagada por quê, respondeu: ‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim”. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?” Responde a garota: ‘‘Têm”. Trata-se apenas de um exemplo, pinçado entre dezenas que estarrecem o leitor a cada página.
Contrariando as referências bibliográficas analisadas e o depoimento das próprias professoras da escola pesquisada, Eliane percebeu conflitos e hierarquizações raciais entre as crianças, como demonstrou o depoimento de uma garota negra de seis anos. Segundo ela, as crianças só brincavam com ela quando levava brinquedo. Quando indagada por quê, respondeu: ‘‘Porque sou preta. A gente estava brincando de mamãe. A Catarina branca falou: eu não vou ser tia dela (da própria criança que está narrando). A Camila, que é branca, não tem nojo de mim”. A pesquisadora pergunta: ‘‘E as outras crianças têm nojo de você?” Responde a garota: ‘‘Têm”. Trata-se apenas de um exemplo, pinçado entre dezenas que estarrecem o leitor a cada página.
A
omissão e o silêncio das professoras diante dos estereótipos e dos estigmas
impostos às crianças negras são a tônica de sua prática pedagógica. Outra
menina negra conta que as crianças a xingam de ‘‘preta que não toma banho” e
acrescenta: ‘‘Só porque eu sou preta elas falam que não tomo banho. Ficam me
xingando de preta cor de carvão. Ela me xingou de preta fedida. Eu contei à
professora e ela não fez nada”. Dois meninos negros eram chamados por uma
professora de ‘‘filhotes de São Benedito”, porque ela os achava ‘‘o cão em
forma de gente”. Como conseqüência, a auto-estima dessas crianças e sua
auto-representação ficarão seriamente abaladas. A imagem de si mesmas será
inferiorizada e as crianças brancas que presenciaram as cenas provavelmente se
sentirão superiores a elas. Estabelece-se, assim, o círculo vicioso do racismo
que estigmatiza uns e gera vantagens e privilégios para outros.
A
observação das crianças nos espaços de lazer permitiu à pesquisadora presenciar
situações concretas de preconceito e discriminação entre elas. Nesse loccus da
liberdade, longe das professoras, as crianças podiam escolher seus parceiros e
decidir por quanto tempo permaneceriam brincando com eles. As manifestações
discriminatórias foram ouvidas nos momentos em que algo era disputado: poder,
espaço físico ou companhia. As crianças repetiam os ensinamentos e
comportamentos discriminatórios dos adultos. Foi nesse contexto que um garoto
branco sugeriu a outro garoto negro que levasse para casa um carrinho
abandonado no tanque de areia, porque ‘‘preto tem que roubar mesmo”.
De
volta à relação professor/aluno, a pesquisa mostra que as crianças brancas
recebem mais oportunidades de se sentirem aceitas e queridas que as demais;
elas são consideradas ‘‘boas”, os elogios são feitos a elas como pessoas, são
inteligentes, espertas, bonitas etc. No caso das crianças negras são feitos
elogios às tarefas que estão bem-feitas, mas não a elas como seres humanos
dignos de admiração e incentivo.
O
trabalho de Eliane atinge seu objetivo: constitui-se caldo de cultura fecundo
para gerar estratégias que elevem a auto-estima de pessoas pertencentes a
grupos discriminados, potencializando, dessa forma, a convivência positiva
entre as pessoas na escola, pautada pelos princípios da igualdade.
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