Esta obra discute a
avaliação numa perspectiva construtivista que se contraponha à prática de
avaliação tradicional, buscando o sentido em direção a uma escola igualitária e
libertadora desde a educação infantil, o ensino fundamental, médio, até a
universidade.
O livro inicia com a
discussão da escola de qualidade e sobre o compromisso de manter na escola o
aluno favorecendo-lhe de fato o acesso ao saber (não simplesmente por promovê-lo),
a outros graus de ensino, de permanência e continuidade nos estudos. Melhoria
da qualidade do ensino requer: escolaridade para todas as crianças e escolas
que compreendam essas crianças a ponto de auxiliá-las a usufruir seu direito ao
ensino fundamental no sentido de sua promoção como cidadãos participantes nesta
sociedade; que perceba a educação como direito da criança consciente desse
direito.
Numa perspectiva
construtivista da avaliação, a questão da qualidade do ensino deve ser
analisada em termos dos objetivos efetivamente perseguidos no sentido do
desenvolvimento máximo possível dos alunos, à aprendizagem, no seu sentido
amplo, alcançada pela criança a partir das oportunidades que o meio lhe
oferece.
A qualidade do ensino
na concepção classificatória, a qualidade se refere a padrões preestabelecidos,
em bases comparativas: critérios de promoção, gabaritos de respostas, padrões
de comportamento ideal. Uma qualidade que se confunde com quantidade.
Qualidade, na
perspectiva mediadora da avaliação, significa desenvolvimento máximo possível,
um permanente “vir a ser”, sem limites preestabelecidos, embora com objetivos
delineados e aceitação das pré-condições socioculturais do educando.
A avaliação apresenta
uma importância social e política fundamental no fazer educativo vinculando-a a
idéia de qualidade. Avaliar qualitativamente significa um julgamento mais
global e intenso, no qual o aluno é observado como um ser integral, colocado em
determinada situação relacionada às expectativas do professor e também deles
mesmos.
A autora pesquisou as causas do
fracasso escolar junto aos professores (30) de escolas estaduais de educação
infantil, ensino fundamental e médio, os quais responderam:
1. o aluno não se interessa pelo conteúdo da escola. (10)
2. o aluno apresenta problemas de relacionamento com professores e colegas. (10)
3. o aluno não apresenta maturidade. (06)
4. o aluno não tem oportunidade de expressar suas idéias ao professor. (03)
5. o professor apresenta falta de conhecimento quanto a questões de aprendizagem. (1)
1. o aluno não se interessa pelo conteúdo da escola. (10)
2. o aluno apresenta problemas de relacionamento com professores e colegas. (10)
3. o aluno não apresenta maturidade. (06)
4. o aluno não tem oportunidade de expressar suas idéias ao professor. (03)
5. o professor apresenta falta de conhecimento quanto a questões de aprendizagem. (1)
Percebe-se que alguns
professores atribuem a responsabilidade a si próprios, porém a maioria atribui
a culpa aos alunos, os quais passam a ser um misto de réu e vítima.
Quem são os responsáveis pelo fracasso
escolar: professores, alunos ou sociedade? O compromisso do professor diante da
criança e do jovem deve proceder diante das diferenças individuais dos alunos
em relação a todos os níveis
socioculturais. Um dos princípios da teoria construtivista é fundamental para avaliação: o indivíduo se dá por estágios evolutivos do pensamento a partir de sua maturação e suas vivências.
socioculturais. Um dos princípios da teoria construtivista é fundamental para avaliação: o indivíduo se dá por estágios evolutivos do pensamento a partir de sua maturação e suas vivências.
Neste sentido,
deve-se ter uma visão construtivista do erro em termos da correção das tarefas
feitas pelos alunos em todas as situações de aprendizagem. Os erros e as
dúvidas dos alunos são componentes significativos ao desenvolvimento da ação
educacional, pois permitirá ao docente a observação e investigação de como o
aluno se coloca diante da realidade ao construir seu conhecimento.
A autora distingue o
diálogo entre professor e aluno como indicador de aprendizagem, necessário, à
reformulação de alternativas de solução para que a construção do saber
aconteça. A reflexão do professor sobre seus próprios posicionamentos
metodológicos, na elaboração de questões e na análise de respostas dos alunos
deve ter sempre um caráter dinâmico.
Na avaliação
mediadora o professor deve interpretar a prova não para saber o que o aluno não
sabe, mas para pensar nas estratégias pedagógicas que ele deverá utilizar para
interagir com esse aluno. Para que isso aconteça, o desenvolvimento dessa
prática avaliativa deverá desvelar a trajetória de vida do aluno durante a qual
ocorrem mudanças em múltiplas dimensões.
Em relação ao
processo de aprendizagem toda resposta do aluno é ponto de partida para novas
interrogações ou desafios do professor. Devem-se oportunizar aos discentes
emitir idéias sobre um assunto, para ressaltar as hipóteses em construção, ou
as que já foram elaboradas. São estas atitudes que idealizam, de fato, um
processo de avaliação contínua e mediadora.
A objetividade e a
subjetividade em geral refere-se a forma de elaboração das questões, mas é pela
correção que as questões se caracterizam em “objetivas” ou “subjetivas”.
A partir das considerações, apontamos
alguns princípios coerentes à ação avaliativa mediadora:
- oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas idéias – as tarefas são elementos essenciais para a observação das hipóteses construída pelos alunos ao longo do processo;
- oportunizar discussões entre os alunos a partir de situações desencadeadoras - os trabalhos em grupo são “gatilhos” para a reflexão de cada aluno, para o desenvolvimento do conhecimento em sua perspectiva de compreensão;
- realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes – a avaliação mediadora exige a observação individual, ou seja uma relação direta com o aluno a partir de muitas tarefas (orais ou escritas), interpretando-as (respeito a subjetividade), refletindo e investigando teoricamente razões para soluções apresentadas de acordo com os estágios
e as experiências do aluno;
- em vez do certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções – é preciso ultrapassar a sistemática tradicional de buscar certos e errados em relação às respostas do aluno e atribuir significado ao que se
observa em sua tarefa, valorizando idéia e dando importância a suas dificuldades. O respeito e a valorização de cada tarefa favorecem a expressão de crenças verdadeiramente espontâneas.
- transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento – os registros do professor devem responder às questões: O aluno aprendeu? Ainda não aprendeu? Por que não aprendeu? Quais os encaminhamentos feitos ou por fazer nesse sentido?
- oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas idéias – as tarefas são elementos essenciais para a observação das hipóteses construída pelos alunos ao longo do processo;
- oportunizar discussões entre os alunos a partir de situações desencadeadoras - os trabalhos em grupo são “gatilhos” para a reflexão de cada aluno, para o desenvolvimento do conhecimento em sua perspectiva de compreensão;
- realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes – a avaliação mediadora exige a observação individual, ou seja uma relação direta com o aluno a partir de muitas tarefas (orais ou escritas), interpretando-as (respeito a subjetividade), refletindo e investigando teoricamente razões para soluções apresentadas de acordo com os estágios
e as experiências do aluno;
- em vez do certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções – é preciso ultrapassar a sistemática tradicional de buscar certos e errados em relação às respostas do aluno e atribuir significado ao que se
observa em sua tarefa, valorizando idéia e dando importância a suas dificuldades. O respeito e a valorização de cada tarefa favorecem a expressão de crenças verdadeiramente espontâneas.
- transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento – os registros do professor devem responder às questões: O aluno aprendeu? Ainda não aprendeu? Por que não aprendeu? Quais os encaminhamentos feitos ou por fazer nesse sentido?
Em relação à correção
há duas posturas que se opõem naturalmente:
Avaliação Classificatória
|
Avaliação Mediadora
|
Corrigir tarefas e provas do aluno para verificar
respostas certas e erradas e, com base nesta verificação periódica, tomar
decisões quanto ao seu aproveitamento escolar, sua aprovação em cada série ou
grau de ensino (prática Avaliativa).
|
Analisar Teoricamente as várias manifestações dos
alunos em situações de aprendizagem (verbais ou escritas, outra produções),
para acompanhar as hipóteses que vem formulando a respeito de determinados
assuntos, em diferentes áreas de conhecimento, de forma a exercer uma ação
educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou reformulação
de hipóteses preliminarmente formuladas. Acompanhamento esse que visa ao
acesso gradativo do aluno a um saber competente na escola e, portanto, sua
promoção a outras séries e graus de ensino
|
As diferentes
posturas também se revelam nas expectativas dos alunos (pedindo para professor
dar nota em toda atividade; não aceitando que sua tarefa tenha erro), dos pais
( não aceitando que não se corrija o caderno de seu filho), dos professores
(corrijo tudo, não corrijo, o que fazer?).
Na concepção
mediadora a correção se faz presente pensando na evolução do conhecimento de
forma dinâmica, de descoberta por ensaio e erro, de tomada de consciência sobre
o fazer, muito mais que a preocupação com resultados imediatos ou fórmulas
definitivas de solução apresentadas pelo professor.
Não significa aceitar
tudo o que a criança faz. Considerar, valorizar, não significa observar e
deixar como está. Ao contrário exige do professor a reflexão teórica necessária
para o planejamento de situações provocativas ao aluno que favoreçam a sua
descoberta. As tarefas de aprendizagem são pontos de partida do professor no
sentido de gerar conflitos entre as crianças pela confrontação entre elas a
respeito de diferentes soluções pensadas em evolução.
A ação mediadora do
professor, a sua intervenção pedagógica, desafiadora, não pode ser uniforme em
todas as situações de tarefas dos alunos. Os erros que a criança apresenta
podem ser de natureza diversa. Nenhum extremo é válido: considerar que sempre
devemos dizer a resposta certa ou no outro extremo, considerar que todo e
qualquer erro que o aluno cometa tenha o caráter construtivo e que ele poderá
descobrir todas as respostas.
A tarefa do aluno
está presente entre uma tarefa do aluno e a posterior. A tarefa do professor
consiste em favorecer a este aluno o alcance de um saber competente e a
aproximação com a verdade científica.
O tema correção
envolve essencialmente o respeito à criança em suas etapas de desenvolvimento
e, por isso é urgente incluir o termo “ainda” no seu vocabulário. Ao invés de
analisar os exercícios dos alunos para responder quem errou ou quem acertou,
analisá-los para observar quem aprendeu e quem “ainda” não aprendeu.
Os registros de
avaliação refletem a concepção de educação do professor. Relatórios de
avaliação devem expressar avanços, conquistas, descobertas, bem como relatar o
processo vivido em sua evolução, em seu desenvolvimento, dirigindose aos
encaminhamentos, às sugestões de cooperação entre todos que participam do
processo. Ao relatarmos um processo efetivamente vivido, encontraremos as
representações que lhes dêem verdadeiro sentido.
Há muitas crenças que
a avaliação mediadora é restrita aos professores das séries iniciais do ensino
fundamental, mas a autora revela o desenvolvimento desta perspectiva no ensino
médio e no ensino universitário através de pesquisas realizadas.
O modelo que se
instala em cursos de formação, é um modelo reprodutivista sendo muito mais
forte que qualquer teoria que o aluno possa adquirir, pois é vivida em seu
cotidiano.
Em sua pesquisa no curso universitário
a autora aponta algumas concepções apresentadas pelos professores resistentes à
avaliação mediadora e assinala caminhos para reflexão :
1. alunos desinteressados e desatentos – observa-se , nesta visão, um compromisso do educador alienado de uma relação de aproximação com o pensar do aluno: o professor “dá” a aula e o aluno “pega” as explicações. Na avaliação mediadora despertaria, então, o educador para a relação dialógica da avaliação, buscando alternativas para estabelecer sua aproximação e descoberta dos diferentes modos de pensar.
1. alunos desinteressados e desatentos – observa-se , nesta visão, um compromisso do educador alienado de uma relação de aproximação com o pensar do aluno: o professor “dá” a aula e o aluno “pega” as explicações. Na avaliação mediadora despertaria, então, o educador para a relação dialógica da avaliação, buscando alternativas para estabelecer sua aproximação e descoberta dos diferentes modos de pensar.
2. tempos e disponibilidade: entraves do processo – a avaliação mediadora
opõe-se ao modelo “transmitir-verificar-registrar” e evolui no sentido de uma
ação reflexiva e desafiadora do educador em termos de contribuir, elucidar,
favorecer a troca de idéias entre e com seus alunos.
3. o diálogo professor/aluno – o diálogo entendido a partir da relação
epistemológica, não se processa obrigatoriamente através da conversa, enquanto
comunicação verbal com o estudante.
Refletir em conjunto
com o aluno sobre o objeto do conhecimento, para encaminhar-se à superação,
significa desenvolver uma relação dialógica, princípio fundamental da avaliação
mediadora.
4. acompanhamento individualizado – o diálogo, compreendido como leitura
curiosa e investigativa do professor das tarefas de aprendizagem, poderá se
estabelecer mesmo se o educador trabalhar com muitos alunos, no sentido de
permitir lhe, senão a proximidade corpo a corpo com o estudante, o debruçar-se
sobre suas idéias e as do grupo para acompanhar seus argumentos e vir a
discuti-los ou enriquecê-los.
Portanto, o maior
desafio é favorecer a descoberta pelos professores do significado da avaliação
mediadora para a formação de um profissional competente.
Confirmando a
hipótese da autora que experiências em avaliação mediadora possam provocar
espontaneamente um reestudo do currículo, realizou um trabalho junto a uma
universidade e constatou que a prática avaliativa foi sendo reformulada e
explicitada em seu desenvolvimento através de reflexões constantes e ajustes
necessários.
Os professores participantes do projeto
no Ensino Médio relataram algumas conclusões:
- o processo de transformação inicia de forma lenta com muitas resistências dos alunos. Uma vez compreendido, o processo alcança bons resultados; · a proposta exige a reflexão permanente do grupo e ajustes freqüentes;
- a cooperação entre os alunos e destes com a professora é um dos resultados alcançados. Os alunos passam a mostrar-se mais interessados em vencer suas dificuldades e a refazer seus trabalhos; · a não-atribuição de notas à tarefas e situações não-declaradas de “prova” causam menor pressão e resultados mais favoráveis de aprendizagem;
- o processo provoca naturalmente a revisão do currículo pelos professores e o repensar de sua metodologia;
- percebe-se com maior clareza a dimensão das dificuldades dos alunos.
- o processo de transformação inicia de forma lenta com muitas resistências dos alunos. Uma vez compreendido, o processo alcança bons resultados; · a proposta exige a reflexão permanente do grupo e ajustes freqüentes;
- a cooperação entre os alunos e destes com a professora é um dos resultados alcançados. Os alunos passam a mostrar-se mais interessados em vencer suas dificuldades e a refazer seus trabalhos; · a não-atribuição de notas à tarefas e situações não-declaradas de “prova” causam menor pressão e resultados mais favoráveis de aprendizagem;
- o processo provoca naturalmente a revisão do currículo pelos professores e o repensar de sua metodologia;
- percebe-se com maior clareza a dimensão das dificuldades dos alunos.
Nesta perspectiva,
avaliação mediadora é uma postura de vida e os fundamentos de uma ação
avaliativa mediadora ultrapassam estudos sobre teorias de avaliação e exigem o
aprofundamento em teorias de conhecimento bem como estudos referentes a áreas
específicas de trabalho do professor.
A ação avaliativa mediadora se
desenvolve em benefício ao educando e dá-se fundamentalmente pela proximidade
entre quem educa e quem é educado. Pela curiosidade de conhecer a quem educa e conhecendo,
a descoberta de si
próprio. Conhecimento das possibilidades dos educandos de contínuo vir a ser, desde que lhe sejam oferecidas as oportunidades de viver muitas e desafiadoras situações de vida.
próprio. Conhecimento das possibilidades dos educandos de contínuo vir a ser, desde que lhe sejam oferecidas as oportunidades de viver muitas e desafiadoras situações de vida.
Resumo elaborado por
Martha Sirlene da Silva
Martha Sirlene da Silva