domingo, 30 de junho de 2013

EDUCAR PARA CRESCER. Por dentro do IDEB: o que é o Índice de Desenvolvimento

 Ideb foi criado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) em 2007, como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Ele é calculado com base na taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e no desempenho dos alunos no SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e na Prova Brasil. Ou seja, quanto maior for a nota da instituição no teste e quanto menos repetências e desistências ela registrar, melhor será a sua classificação, numa escala de zero a dez. O mecanismo foi muito bem avaliado por especialistas justamente por unir esses fatores. Sendo assim, se uma escola passar seus alunos de ano sem que eles tenham realmente aprendido, por exemplo, isso  ficará claro a partir da análise do desempenho dela no Ideb. O IDEB é um dos pilares do Plano de Desenvolvimento da Educação. Ideb foi criado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) em 2007, como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Ele é calculado com base na taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e no desempenho dos alunos no SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e na Prova Brasil. Ou seja, quanto maior for a nota da instituição no teste e quanto menos repetências e desistências ela registrar, melhor será a sua classificação, numa escala de zero a dez. O mecanismo foi muito bem avaliado por especialistas justamente por unir esses fatores. Sendo assim, se uma escola passar seus alunos de ano sem que eles tenham realmente aprendido, por exemplo, isso ficará claro a partir da análise do desempenho dela no Ideb. Ideb 2009: quais são as notas? Para que serve o Ideb?
O índice permite um mapeamento detalhado da educação brasileira, com dados por escolas, municípios e estados, além de identificar quem são os que mais precisam de investimentos e cobrar resultados. A Prova Brasil e o SAEB são aplicados a cada dois anos. A coleta e compilação dos dados demora cerca de um ano. Quando o IDEB foi criado, foram utilizados os dados de 2005, divulgados em 2006. Em 2008, saíram os resultados de 2007. Em 2010, foram divulgados os resultados de 2009. Como o Ideb deve ser usado? Para os pais, o Ideb é uma excelente ferramenta para orientar a escolha de qual escola matricular seus filhos e também para estimulá-los a cobrar, dos governantes e dos diretores das instituições, melhorias. Aos responsáveis pelas escolas, o índice aponta bons exemplos que merecem ser seguidos (colégios que precisam se aperfeiçoar podem pesquisar boas iniciativas em seus vizinhos mais bem colocados no ranking). Além de instrumento de análise, o Ideb é também um sistema de metas. As metas são estipuladas de acordo com o patamar atual de cada instituição, mas todas devem melhorar seus índices. O Ideb ainda ajuda prefeitos e governadores a radiografar quais são as escolas problemáticas e promissoras de sua rede. Como o Ideb evoluiu nos últimos anos? Os resultados mais recentes apontam a média de 4,6 para as séries iniciais do Ensino Fundamental, 4,0 para as últimas séries do Ensino Fundamental e 3,6 para o Ensino Médio. Em 2005, as médias eram mais baixas: 3,8; 3,5 e 3,4, respectivamente. Em 2007, elas cresceram para 4,2, 3,8 e 3,5. Nos últimos quatro anos, os números cresceram em todas as etapas do ensino. Tanto que, no geral, os objetivos previstos para 2009 foram atingidos antes da hora. Apesar disso, os números ainda são muito inferiores aos dos países desenvolvidos, que apresentam média 6,0. O objetivo é alcançar essa marca até 2021. O que é preciso para o Ideb dar certo?
Estados e municípios devem usar os resultados do índice como parâmetro para orientar a melhoraria do ensino em sua rede. Uma análise das instituições campeãs do ranking mostra que medidas simples trazem resultado. O que essas escolas têm de diferente, no geral, é seu empenho em ensinar, ou seja, o compromisso de cada educador com seus alunos. Traduzindo em exemplos: nesses colégios mais bem colocados, a média de permanência do diretor no cargo é de no mínimo três anos, contra a média nacional de doze meses. Outro: neles lê-se pelo menos quatro livros por semestre, enquanto a maior parte das escolas brasileiras não faz exigência de leitura. A porcentagem de professores com curso superior completo também é maior nos endereços mais próximos da excelência (92% contra a média nacional de 68%). Leia mais sobre o Ideb
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Indicador do MEC diz quanto cada escola do país deve progredir As lições do primeiro colocado O campeão do MEC; utros pontos importantes do PDE:
O IDEB revolucionou as estatísticas sobre educação Mede-se de tudo em sociedades modernas: do nível de riqueza do país aos hábitos à mesa de sua população. Indicadores ajudam a traçar cenários para a economia que orientam decisões em empresas e governos. Dados socioeconômicos dão contornos às políticas públicas. Até a década de 80, o Brasil era ainda um país pouco afeito a estatísticas, limitado a números produzidos a cada dez anos por meio dos censos. Sobre as escolas brasileiras, sabia-se que eram assoladas por taxas de repetência similares às de países africanos. E só. Apenas em 1990 surgiu o primeiro medidor no país para aferir a qualidade da educação, o Saeb, seguido de uma leva de avaliações durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula intensificou ainda mais as medições, o que permitiu, enfim, enxergar com precisão as deficiências em sala de aula em todos os níveis de ensino. O Ministério da Educação (MEC) criou um ranking de escolas públicas de ensino fundamental - o mais completo já feito no país. É o mais recente dos medidores oficiais, o Ideb. Os especialistas o definem como um avanço em relação aos outros: ele não só mostra um panorama da educação brasileira como, pela primeira vez, estabelece metas objetivas para 46.000 escolas públicas do país. É um sistema de cobranças e incentivos. As escolas que superarem a meta receberão mais verbas. Resume o ministro Fernando Haddad: "O objetivo é fazê-las chegar em quinze anos ao padrão dos países desenvolvidos".
O estímulo para que as escolas brasileiras elevem o nível vem em boa hora. O Ideb mostra que elas ainda estão a anos-luz da excelência. Eis o pior dado: a média geral, segundo o novo medidor, não passou de sofríveis 3,8 (numa escala de zero a 10). Raríssimas escolas da lista não tiraram nota vermelha na avaliação. Mais precisamente, 178 delas, solitárias ilhas de bom ensino que conseguiram cravar notas acima de 6 - a média da OCDE (organização que reúne países da Europa e os Estados Unidos). Sim: apenas 0,3% das escolas brasileiras oferta ensino de qualidade comparável ao que predomina nas salas de aula dos países mais ricos. Sobre elas, o levantamento do MEC traz um dado surpreendente: o melhor ensino público do país não aparece apenas nas escolas que recebem mais dinheiro do governo ou ficam nas maiores cidades do país, mas, também, naquelas sediadas em municípios mais pobres e menos conhecidos. Esse é o caso da metade das escolas que fugiram da zona de notas vermelhas, segundo o Ideb. O resultado ajuda a derrubar um velho mito, o de que só há
bom ensino onde sobra dinheiro. Ao revelar o mapa da excelência, o novo medidor do MEC também tem o mérito de jogar luz sobre práticas que levam ao sucesso escolar. A maioria delas não é mirabolante - tampouco é dispendiosa. As boas escolas, sobretudo as do interior, costumam enfrentar suas mazelas com o esforço de gente como Milena Ferreira, 26 anos, diretora do colégio Helena Borsetti, em Matão, no interior de São Paulo. É a terceira melhor do país, no ciclo de 1ª a 4ª série, segundo o Ideb. Para sanar a falta de uma biblioteca, Milena liderou na cidade um mutirão para arrecadar livros. O saldo: 800 volumes doados em uma semana. Eles ficam à disposição em duas caixas de papelão. "As crianças amam ler", orgulha-se a diretora. O exemplo de Matão ilustra uma idéia bastante propagada no mundo acadêmico: a de que diretores engajados às questões do ensino são a alma de uma boa escola. Um levantamento com as vinte campeãs no Ideb mostra que todas elas estão sob o comando de um diretor que está no cargo há pelo menos três anos. Nas outras escolas do país, a média é de um novo diretor por ano. Conclui Maria Helena Guimarães, secretária de Educação no Distrito Federal: "Educador bom é aquele que leva o trabalho às últimas conseqüências e se responsabiliza
pelos resultados".
O Ideb mostra, em suma, que bom ensino não depende de soluções mágicas, mas, sim, de empenho. Nas escolas campeãs, a equipe de educadores certamente trabalha mais (e queixa-se menos) do que a média nacional, os pais são mais entusiastas da rotina escolar e os estudantes passam mais tempo em sala de aula. Colégio número 1 no ranking de 1ª a 4ª série, o Ciep Guiomar Gonçalves Neves oferece há cinco anos período integral. A decisão de esticar a jornada de estudos foi tomada em com os pais (e não significou um centavo a mais à folha de pagamento). Os professores apenas seguiram com o estabelecido em contrato: quarenta horas semanais dedicadas ao colégio. A campeã está sediada em um dos vários cenários improváveis para a excelência acadêmica revelados pelo Ideb. Fica em Trajano de Morais, município de 10.000 habitantes a 250 quilômetros do Rio de Janeiro, onde se vive do cultivo de frutas e legumes. Os pais dos estudantes ganham em média dois salários mínimos por mês - e muitos não venceram as primeiras séries do ensino fundamental. Ainda assim, a escola consegue o feito de formar alunos com raro entusiasmo pelos estudos. Um dos melhores da turma, o estudante Marco Aurélio do Amaral, de 12 anos, tem a reputação de prodígio da matemática e traduz o clima local: "As aulas são ótimas". De novo, o Ideb remete à idéia do esforço para chegar ao bom ensino. Em escolas campeãs, como a de Marco Aurélio, os professores não só cultivam o hábito de preparar as aulas (básico, porém raro no país) como também estudam mais. Enquanto 32% dos professores brasileiros nunca pisaram numa universidade, nas vinte melhores escolas do país 92% têm diploma de graduação, sendo que 63% poliram seu currículo com uma especialização. Em alguns casos, o que os atrai às boas escolas é um fator subjetivo: "Elas levam o ensino a sério". Noutros casos, essa elite de professores é motivada por meio de bons planos de carreira, como o do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp), campeão no ranking de 5ª a 8ª série. Tem-se lá um sistema raro - e de bom resultado. A cada nova especialização, os professores ganham aumento de salário e licença de até quatro anos para prosseguir com os estudos. Com esse tipo de política, o CAp segura em seus quadros profissionais como a professora Ana Lúcia Mayor, de 44 anos, doutora em literatura. "Aqui se valoriza o mérito". A professora pertence a uma minoria de escolas patrocinada pelo governo federal. Elas recebem quatro vezes mais dinheiro do que os outros colégios e emplacaram oito das vinte campeãs do novo ranking. Um indicador como o Ideb não só contribui para divulgar os bons exemplos como também revela, para a maioria das más escolas, o abismo que as separa da excelência. O diagnóstico oficial deveria servir como ponto de partida para uma mudança nos rumos em sala de aula. O problema é que, no Brasil, medidores como o Ideb costumam passar em branco nas escolas - boas e ruins.
Ao ouvir que o colégio municipal Esfinge, de Lauro de Freitas, na Bahia, havia aparecido em último lugar no ranking do MEC, com média 0,1 (sim, na mesma escala de zero a 10), Nailma dos Santos indagou: "Ideb? É um novo canal de televisão?". Detalhe: Nailma é a diretora da escola. Ao ignorar a existência do novo indicador, ela também não levará em conta a meta estipulada pelo MEC para que sua escola suba de nível. Deveria. No fim do 3º ano do ensino fundamental, as crianças de lá ainda aprendem as primeiras sílabas.
A escola de Lauro de Freitas não é a única do estado no ranking das vinte piores do país: são ao todo dez escolas baianas na rabeira (o estado só ficou à frente de Alagoas). Outra que fracassou foi a estadual Celina Pinho, de Salvador. Em meio a uma greve de professores que já passou de um mês, a escola é palco de violência entre os estudantes - e de salas abandonadas. Questionado sobre o paradeiro da diretora, um aluno que havia decidido atender o telefone respondeu: "Foi passear". Os dois péssimos exemplos vindos da Bahia infelizmente não são os únicos revelados pelo MEC. O conjunto deles não deixa dúvida sobre a urgência de um medidor como o Ideb passar a ser levado a sério. A experiência mostra que indicadores do gênero têm sido ignorados no Brasil não apenas por desconhecimento mas, principalmente, pela aversão a levantamentos cujos dados permitem montar rankings, indicadores de quem está fazendo mais com o mesmo e até com menos.
O discurso-padrão de professores e alunos que preferem boicotar as avaliações baseia-se na ladainha ideológica segundo a qual é 'injusto'comparar instituições egressas de realidades tão diferentes ou 'humilhar' as piores ao dar visibilidade a seus fracassos. Esse discurso não cola mais. Eles ignoram o que há décadas se depreendeu da experiência internacional. Os rankings têm gerado em outros países uma saudável competição entre escolas e universidades – e servido como estímulo para que as piores elevem o nível das aulas. No Brasil, país lembrado como um dos melhores em avaliações do ensino, tem-se ainda efeito quase nulo dos vários indicadores disponíveis.
"Até hoje, nenhum deles teve uso prático", diz o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. Espera-se que agora, com a cobrança de metas, as escolas passem a prestar mais atenção nos números. Elas serão reavaliadas a cada dois anos. Segundo o MEC, todas deverão chegar à nota 6, média do mundo desenvolvido, até 2022. O Ideb mostra que lhes resta, ainda, um longo caminho pela frente.
As lições do primeiro colocado Porto Ferreira, que tem a média mais alta no Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica, considera prioridade a atenção total à aprendizagem Deborah Trevizan.
Ao perguntar ao diretor, à equipe pedagógica e aos estudantes da EMEFM. Mário Borelli Thomaz por que Porto Ferreira, no interior de São Paulo, está em primeiro lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a resposta foi: porque a escola dá total atenção aos alunos. Por ser a única unidade da rede municipal a oferecer a 8ª série, só ela foi avaliada na Prova Brasil em 2005, levando a cidade a ter destaque nacional.
Das 28 metas que o Plano de Desenvovimento da Educacão estabelece para que os municípios melhorem seu índice, Porto Ferreira atinge 15. A posição invejável - nota 5,9, quando a média nacional ficou em 3,5 – foi conseguida de maneira pouco convencional: somente 28 dos 180 alunos de 8ª série fizeram o teste, justamente os que estavam de recuperação! A maior demonstração de consideração pelos estudantes, segundo os professores, são os dez minutos reservados depois das aulas para dialogar com eles. “Podendo se expressar, os jovens se sentem amparados e entusiasmados com os estudos”, diz o diretor Apparecido Espírito Santo, conhecido como seu Neguinho. A Mário Borelli foi inaugurada há 45 anos, quando formava técnicos. O Ensino Fundamental e o Médio surgiram quando ela já tinha 19 anos. Hoje, com cerca de 2 mil alunos, ela continua seriada e não faz a progressão continuada. Tem ainda classes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursos profissionalizantes. Cleuza Pazzini, professora de Língua Portuguesa, conta que a linha pedagógica é tradicional, com ênfase no diálogo e na leitura – os alunos entram em contato com os clássicos da literatura desde a 5ª série.
Diretor de prestígio.
A professora de Matemática Vera Lúcia do Nascimento credita o bom desempenho dos alunos à postura da direção. Não só ela. Os 73 professores se dizem discípulos de seu Neguinho, sempre visto nos corredores durante os intervalos e nas salas de aula, nos três períodos. “Existe um comprometimento do grupo em colocar as crianças em primeiro plano. Aqui não existe ‘não aprender’! O professor tem de ensinar”, ele afirma. Para manter a equipe sempre informada sobre o que se passa com cada aluno, há três reuniões semanais, além de encontros diários na sala dos professores e reuniões
mensais. A maioria participa de todos os cursos promovidos pela Diretoria de Educação. O resultado do Ideb e a repercussão na mídia surpreenderam o diretor: “Quando a Prova Brasil foi aplicada, eu não tinha idéia dos objetivos da avaliação nem da dimensão que ela atingiria”. Mas ele não foi o único. Muitos docentes não conhecem a nota da escola em que dão aula e pais não imaginam que há uma forma como essa de acompanhar a qualidade da Educação dos filhos. A prova, no entanto, é uma forma de prestação de contas à comunidade. Na Mário Borelli, as famílias já estão acostumadas a ver os filhos vencendo concursos de redação e Olimpíadas de Matemática e saindo do Ensino Médio direto para universidades públicas. A participação dos pais no dia-a-dia foge do comum: as reuniões são sempre lotadas e não é difícil encontrar mães pelos corredores conversando com os professores sobre o estudo dos filhos. Segundo seu Neguinho, a escola não deixa que as dificuldades de aprendizagem se arrastem durante o ano. Os alunos de 1ª a 4ª série têm aulas de reforço no contra-turno: “A atenção aos primeiros anos do Fundamental explica em parte o sucesso dos alunos na 8ª série”, afirma o diretor. Da 5ª série em diante, além das avaliações dadas por cada professor há, no fim do ano, uma prova em que é preciso ter 5 para ser aprovado. Quem não atinge a nota tem uma semana de aulas de recuperação, seguida de nova avaliação.
Muito a fazer.
A diretora de Educação do município, Maria Cecília Gallo Rossi, reconhece que a realidade da Mário Borelli não representa Porto Ferreira de modo geral. A rede é formada por oito creches; nove escolas de Educação Infantil, uma com Ensino Fundamental e Médio (a Mário Borelli), e sete de 1a a 4a (uma delas com 5a e 6a a partir deste ano). Os 481 professores são concursados. “Por ser a primeira escola da rede, ela tem tradição, pais participativos e professores e funcionários empenhados em obter os melhores resultados.” Tanto Porto Ferreira como a própria Mário Borelli têm as suas dificuldades. Na cidade, com cerca de 60 mil habitantes e 7400 mil alunos, faltam equipamentos eficientes de lazer e cultura. A escola campeã do Ideb só tem uma quadra de esportes, pouco para atender ao público de 2 mil crianças e jovens. Somente os alunos dos cursos técnicos têm acesso ao laboratório de informática (algumas creches ainda não têm computador nem para o pessoal administrativo). Nenhuma unidade oferece tempo integral, apesar dos projetos da Diretoria de Educação. Maria Cecília é titular da pasta há um ano e promete priorizar esses pontos em sua gestão, além de dar atenção especial aos pequenos: existem cerca de 200 crianças até 3 anos fora das creches. A diretora apóia o PDE, a avaliação feita pela Prova Brasil e o critério usado pelo Ideb para classificar as redes de ensino. Com a média obtida, Porto Ferreira não será contemplada, pelo menos nessa primeira fase, com a ajuda técnica do MEC. Mesmo assim, Maria Cecília e sua equipe já começam a estudar mecanismos para que o município atinja a meta de média no Ideb de 7,4 em 2021: “Vamos precisar trabalhar muito”. Ao perguntar ao diretor, à equipe pedagógica e aos estudantes da EMEFM Mário Borelli Thomaz por que Porto Ferreira, no interior de São Paulo, está emprimeiro lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a resposta foi: porque a escola dá total atenção aos alunos. Por ser a única unidade da rede municipal a oferecer a 8ª série, só ela foi avaliada na Prova Brasil em 2005, levando a cidade a ter destaque nacional. Das 28 metas que o Plano de Desenvovimento da Educacão estabelece para que os municípios melhorem seu índice, Porto Ferreira atinge 15. A posição invejável - nota 5,9, quando a média nacional ficou em 3,5 – foi conseguida de maneira pouco convencional: somente 28 dos 180 alunos de 8ª série fizeram o teste, justamente os que estavam de recuperação! A maior demonstração de consideração pelos estudantes, segundo os professores, são os dez minutos reservados depois das aulas para dialogar com eles. “Podendo se expressar, os jovens se sentem amparados e entusiasmados com os estudos”, diz o diretor Apparecido Espírito Santo, conhecido como seu Neguinho.
A Mário Borelli foi inaugurada há 45 anos, quando formava técnicos. O Ensino Fundamental e o Médio surgiram quando ela já tinha 19 anos. Hoje, com cerca de 2 mil alunos, ela continua seriada e não faz a progressão continuada. Tem ainda classes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursos profissionalizantes. Cleuza Pazzini, professora de Língua Portuguesa, conta que a linha pedagógica é tradicional, com ênfase no diálogo e na leitura – os alunos entram em contato com os clássicos da literatura desde a 5ª série.
Como é calculado o Ideb?
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é calculado pela nota que o município obteve na Prova Brasil (que vai de 0 a 300), o índice de aprovação da série avaliada e o tempo que os alunos demoram para concluí-la. Para chegar à média, o MEC transformou todos esses resultados em valores que variam de 0 a 10 e estabeleceu as metas para os próximos anos. Em 2021, a Educação brasileira deverá ter saído dos atuais 3,8 e 3,5 (na 4a e na 8a séries, respectivamente),e chegado ao 6 e 5,5. Esses números saíram da pontuação dos países que ficam na faixa intermediária do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa), como Luxemburgo, Noruega e Alemanha.
Mas 6 e 5,5 são a média geral. Cada um dos municípios brasileiros tem sua meta própria, baseada na nota atual do Ideb e nas condições de cada local. Porto Ferreira, por exemplo, que já está no topo com 5,9, tem de alcançar 7,4 em 2021. De acordo com Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo cálculo do Ideb, os alvos são difíceis, mas não impossíveis. As cidades que aceitarem o desafio de melhorar o nível da Educação receberão ajuda técnica e financeira do governo federal.
IDEB.
O campeão do MEC Barra do Chapéu, município campeão no novo ranking do MEC, dá uma aula de bom ensino
Texto.
Camila Antunes.
O novo ranking que o Ministério da Educação (MEC) divulgou, na semana passada, revela que as melhores escolas públicas de ensino fundamental do país não ficam nas cidades mais ricas nem nas mais conhecidas, mas, sim, num município rural encravado no interior de São Paulo. Foi em Barra do Chapéu, onde apenas 25% das casas têm banheiro próprio e as ruas carecem de asfalto, que as crianças apresentaram desempenho nas disciplinas escolares comparável ao dos estudantes de países mais ricos. O fato é surpreendente - e bem-vindo - em meio a um péssimo resultado geral.
De acordo com o MEC, enquanto a média alcançada pelos municípios foi de 3,8 - numa escala de zero a 10 -, o campeão Barra do Chapéu tirou nota 6,8. A avaliação tomou como base o índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb), novo indicador que reúne dados objetivos de rendimento escolar. Uma das evidentes explicações para o sucesso de Barra do Chapéu é que o município cultiva, há cinco anos, um hábito que, só agora, o MEC promete difundir pelo país: nas escolas de lá, planeja-se tudo. Antes de prepararem o currículo para o novo ano letivo, por exemplo, as escolas submetem os estudantes a uma prova. Com base no resultado, fazem-se planos mais realistas. Resume a professora Neuza Ribas, secretária de Educação: "Professor sem meta de ensino é como cego em tiroteio".
Outro fato que chama atenção sobre Barra do Chapéu é o pragmatismo diante das velhas mazelas da escola pública. Um exemplo: com as taxas de repetência beirando os 30%, índice de países africanos, decidiu-se esticar em uma hora o tempo dos alunos na escola. Eles ganharam aulas de reforço - e a repetência caiu para aceitáveis 5%. Numa rede de apenas 1.500 alunos, como a de Barra do Chapéu, tomar esse tipo de decisão é bem mais fácil. Prestar atenção na eficácia da medida, no entanto, pode ser esclarecedor aos municípios reprovados. O modelo implantado no interior de São Paulo enfatiza ainda a eficiência de parcerias com o setor privado e até com outras esferas públicas. Um convênio com a Universidade Estadual Paulista trouxe a Barra do Chapéu o primeiro curso de pedagogia. Ajudou a elevar o nível dos professores. Da Fundação Armando Álvares Penteado, faculdade particular de São Paulo, o município recebeu novas carteiras e computadores. Em troca, oferece estágios aos estudantes de lá. A fórmula funcionou em outros municípios aprovados pelo MEC - a maioria deles de São Paulo.
No novo ranking oficial, nove dos dez municípios campeões de ensino são paulistas. O fato surpreendeu por um motivo: na Prova Brasil - outro medidor do MEC para aferir a qualidade do ensino nas escolas - não constava uma única paulistana na lista das melhores. Na semana passada, quando o governo divulgava o novo levantamento, aproveitou para avisar que havia feito uma revisão nos números da Prova Brasil. A razão oficial: erros causados por uma "falha técnica" nos computadores. Refeitas as contas, a cidade de São Paulo saltou da vigésima para a 12ª colocação entre as capitais. A divulgação do mau resultado de São Paulo na Prova Brasil, então governado pelos tucanos, foi um trunfo de Lula em plena campanha eleitoral. O novo ranking do MEC parece refletir melhor a realidade. Prova disso é o bom exemplo vindo de Barra do Chapéu.
O país das notas vermelhas
O que o novo índice da educação básica, do MEC, revelou sobre a educação pública nos municípios brasileiros:
• A média nacional foi de 3,8 - numa escala de zero a 10
• Dos dez municípios campeões em ensino, nove ficam no estado de São Paulo
• Apenas dez das 5 500 cidades brasileiras tiraram nota 6 ou mais – o patamar dos países desenvolvidos